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Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Instante malgáxe no Minho

João-Afonso Machado, 14.01.25

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A cauda cobreou de volta do tronco. Subira pressuroso, muito ágil. E agora punha toda a sua curiosidade no olhar, sem troças ou medos, absolutamente quedo, atentíssimo.

Os cinzentos são os mais raros e os mais bonitos. Talvez os mais tímidos até, apontando sempre às lianas das florestas de Madagáscar, completamente à vista na húmida invernia dos pátios minhotos. À luz dos fogachos amarelos que se denunciam nas órbitas do bichinho.

O instante decorreu em silêncio do princípio ao fim. No solo, as perdigueiras nem tinham dado por ele, e pelo seu inaudível trepar a árvore. E que tivessem... Abrem-lhes o apetite somente as penosas ou a irresistível corrida dos coelhos.

É cinzento este lemur à moda do Minho. E não é sozinho. Há de deixar prole, toda cinza, a mais rara e mais bonita, caudas melífluas, olhos diamantinos. Trazido criança, a vir comer à mão. É só uma questão de ir passando por lá, por esta Madagáscar aqui ao lado...

 

Jardel cachorrinho

João-Afonso Machado, 10.01.25

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No termo do passado milénio, o bando mudou-se de Trás-os-Montes para Monfortinho, terra desconhecida e longínqua. O bando éramos nós, caçadores, e Monfortinho uma "california" de perdizes, o paraíso prometido depois de milhares de socalcos subidos e descidos no Douro e os regressos tantas vezes de mãos a abanar.

Em Monfortinho, pelo meio da manhã, já vinhamos ao carro recarregar as cartucheiras e o guia trazia consigo uma magnífica parelha de perdigueiros, uns artistas como nunca iguais apreciáramos.

De pronto, então, a ideia de adquirir um cachorrito do seu canil albicastrense. E fomos falando em prazos previsíveis de novas ninhadas.

Em 2000, por fim, entrei estrondosamente nos "entas". Com uma surpresa preparada com sigilo e rigor pelos meus amigos: um espantoso jantar no Porto, rosbife, os melhores maduros durienses, muita gente sentada numa mesa descomunal e empregados de casaco branco e lacinho a servirem. Já no remate do bródio, um dos decanos ergueu-se e bateu palmas: logo surgiu um funcionário com um caixotinho que poisou no chão e abriu, dele saindo, todo bem disposto... o Jardel!!!

A rapaziada deslocara-se na véspera a Castelo Branco, a buscá-lo, para mo oferecer no dia do meu aniversário! Em 2000, com essa mesma imposição - Tens de lhe pôr o nome de Jardel...

E assim foi. O Jardel ficou comigo no Porto, de início algo roedor e incontinente. (Nunca esquecerei aquela mijinha em cima da ficha tripla do computador, de urgência transportado à oficina...)

Mas o amor paternal e filial jamais deixou de crescer. Levei-o a primeira vez à caça, muito a medo (não fosse ele perder-se), à Quinta do Cotto, em Cidadelhe, Mesão Frio. Num fugaz domingo de manhã, sem quaisquer expectativas senão a esperança de que o Jardel entendesse - como entendeu - ao que ia.

Seguir-se-iam (em sequentes capítulos) dez anos de parceria, alegrias e grandes feitos do Jardel. O mais bonito perdigueiro que alguma vez foi meu.

 

O Velho Minho, na Póvoa de Lanhoso

João-Afonso Machado, 06.01.25

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É a minha secreta reserva para estar com os que mais me dizem ao coração. (Há dez anos ainda ela vivia, e sã... O jantar decorreu após a visita ao castelo gigantescamente roqueiro, em noite de Verão, repasto cá fora na esplanada...) E agora com os filhos, em tarde ventosa com o Gerês no horizonte e mesa de almoço - 24 de Dezembro - marcada no Velho Minho, a dois passos da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso. Edifício granítico, idoso, a respirar muita honorabilidade.

De modo que entrámos com toda a cortesia recebidos. Foi-nos indicado o cantinho à nossa espera, onde abancámos e logo nos vimos rodeados de pão e tostas e de delícias do mar, que a voracidade vezes três não poupou. Um velho, um viajante do mundo e um rapaz das escritas sempre constituirão uma trindade fatalmente esfomeada. E por isso a escolha recaiu no cabrito assado. Muito aconchegado em batatinhas, o arroz na travessa ao lado e muitas verduras noutra ainda. De eleição, temperado por sabores antigos, cortado em bons nacos e regado por um Papa-Figos, tinto equilibrado, longe de certas invenções a transbordar a graduação dos maduros normais, toda a experiência da Ferreirinha nele.

Assim o cabrito se volatilizou...

E porque um dia não são dias, e os domínios da Maria da Fonte nos acordam o sangue minhoto que não pára nestas veias, à sobremesa outra tolice - o pudim do Abade de Priscos. Com todas as suas doces maldades à saúde....

O almoço demorou, a sala já era só nossa. Tão dispersa família, quando se reune é pior do que uma gaiola de piriquitos... Até que a partida se impôs, no seguimento da costumeira troca de cumprimentos natalícios com o pessoal da casa.

O Velho Minho, uma referência na Póvoa de Lanhoso. Para mim - sempre! - a ara das mais escolhidas nas solenidades do meu coração!