VC - alerta vermelho
Não era vento, eram muitas vozes, gerações delas. Nem era chuva, antes um horizonte de lágrimas e saudade. A fúria do mar apenas memórias inconformadas dos agitados verões tão tranquilamente sós. E essa quietude da nossa praia mais a espelhava a ausência de transeuntes na marginal. Alerta vermelho!... Talvez arroxeado, e Vila do Conde jazendo entre a lenha que a maré trouxe e semeou no areal à espera somente declarassem o seu óbito.
É agora a época estival dos bisavós e dos avós, dos pais. De tantos que já foram ou dos poucos que ainda resistem. Depois será o tempestuoso ruído do espaço invadido pela multidão. Doerão as lembranças de antigamente, recatados contornos da idade posta em casaquinho de malha pelos ombros espreitando curiosa a praia, a barriga debruçada no paredão. Mais os "palhinhas" e a calça beje e conversa, conversa e conversa que só a pontual hora do almoço calava.
Não sei o que me levou ao pranto de Vila do Conde. Estou em crer, uma nesga de Pai e de Mãe, da Avó, soltando sobre os rochedos, salpicando beijos e recados que se dão aos meninos. Quão ansiei uma reprimenda, um castigo até, - que fizera eu ao chapéu nesse sol de saudades em que esqueci a chuva e o vento, a violência do mar?
"Alerta vermelho no litoral nortenho", anunciaram os meteorologistas. Sem dúvida um código. Decifrado. Ou não os sentisse todos lá, já fora das cronometrias, dessa implacável contabilidade que ainda não implicou comigo. Foi um gosto revê-los na espuma que ciciava pela areia ou nas mais autoritárias vozes das vagas contra as rochas. O dia chegará em que a assembleia me terá também. Afinal de contas, a juventude foi ontem.