Faisões estufados à Portuguesa
É sempre merecida uma palavrinha de apreço aos vizinhos aqui da frente, da gloriosa corporação Portuguesa, assim chamada, restaurante de bom peixe, boas vitualhas e, chegada a vez, excelente faisão.
A vez chegou o passado fim de semana. É do conhecimento geral. Evidentemente não em quantidade extensível à casa inteira, mas apenas para uma mesa, a última a ser posta e onde se sentam a D. Alexandrina e o Sr. Martinho, mais o pessoal de serviço e um fornecedor que sou eu. Em torno de uns faisões estufados com muita ciência (o Sr. Martinho pormenoriza os condimentos, as voltas que os bichos levaram, o que lhe ocorreu acrescentar), o molho a escorrer pela colher em cima do arroz e mesmo umas batatinhas (em culinária é onde o diminuitivo carinhoso faz mais sentido) - umas batatinhas fritas às rodelinhas que são das maiores habilidades à Portuguesa.
Os faisões foram muito gabados, mérito de quem os cozinhou. Parece que ainda ficaram no congelador os bastantes para uma segunda ronda.
Mas quanto à sua plumagem, outro assunto largamente debatido, tudo está já ultimado. É necessário fazer seguir a valiosa carga para sul. Ando em trabalhos de uma custódia magnífica, peça única de ourives, e de um séquito de arqueiros, besteiros e outros homens de armas. Adiante o arauto, as trompas e as charamelas e uma proclamação desenrolada em voltas e voltas e voltas de pergaminho, ao pé da qual Luís de Góngora fará as vezes de um vulgar aluno da 4ª classe.