Março!
Março chegou hoje. Nos idos do calendário sem artimanhas falava-se então na Primavera, à vista de dias mais cheios de luz e do frio que se escoava na translação do planeta. Já não será assim, já ninguém sabe o que é Março ao certo, já as horas são manipuladas pelos homens. Restam os serezinos.
São uns passarinhos migrantes (hei de lhes perguntar de onde vêm) muito assemelhados aos canários engaiolados e tão faladores como estes. Amarelo-esverdeados e namoradores, de canto fácil a chamar as suas meninas. (O ciclo da vida a recomeçar...) O jardim enche, as camélias vivificam as cores, Março escorre por aí fora. Nem que chova... E a gente sai do coberto das telhas e acredita no renascimento, a Páscoa não andará longe.
Gosto dos serezinos. Gosto sobretudo das estações do ano - todas elas - devidamente compartimentadas, porque cada uma tem o seu encanto quando substitui o fastio da anterior. Mas aos serezinos não falta quem os intitule "chamarizes", pela exacta razão de anunciarem um tempo novo no seu estrídulo de peito feito - na idade da ganapice aos chumbos das pressões-de-ar e das fisgas, agora ao retrato fotográfico. Esvoaçando de ramo em ramo, intemeratos, quando das árvores ainda despidas.
Março está aí, esperamos nós como os Marços de antigamente, tranquilos, amornecidos, uma transição para as alegrias primaveris. Era já uma fartura invernal... Vamos ter surpresas? Boas?, más? Nada sabemos, a não ser - os serezinos chegaram, o cantorio é pelo dia todo, no campo e nas cidades minimamente decentes.