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Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Julho lunar

João-Afonso Machado, 15.07.23

RATO-DO CAMPO.JPG

Era um rato-do-campo sobre o folhedo pardacento do Outuno ainda por chegar. Saíra agora mesmo da toca, algo esparvoado, o relógio sem dar horas e o seu olhar inteiro, quase metade dele todo, espreitando a medo o decerto armadilhado silêncio.

Queria o ratito saber, na sua erudita fragilidade, que males acossariam o sissiar das palavras, as garras ou os dentes afiados das proposições, o hipnotizante bamboleio da poesia? Porventura perigosas, traiçoeiras, letais, mas... onde pararia toda a gente, o manancial das sementes de que se alimentava?

Nesse labirinto gramatical reconsiderou a periculosidade das cercanias que se lhe apresentavam desoladas e desertas. Outrora povoadas de felinos e águias, de serpentes e de cães impiedosos. Mas todos visiveis e previsiveis, perdendo para a sua corridinha, para a leveza das suas patas rabiscando o solo. Certo era, apercebeu-se o ratito, o mundo acabara, pelo menos provisoriamente.

E como se de súbito sozinho, a desgravitar no sufoco lunar, de um pulo refugiou-se Julho adentro no ninho.