"Je T'aime Moi Non Plus"
Morreu Jane Birkin. Ontem, ainda a tempo de se encontrar com Serge Gainsbourg, já estarão os dois na rapioca, de certeza, lembrando aqueles saudosos idos da minha primeira "festa de dança". Na quinta de um amigo e colega de estudo, a mesa do lanche carregada de Sumol e croissants e a irmã mais velha dele, rapariga viajada, aparecendo e emprestando um single sem capa e muito causador de excitação. - É o Je T'aime! É o Je T'aime! - gritava e pulava a rapaziada. Eu não sabia quem era o Je T'aime mas, para não ficar atrás, - É o Je T'aime! É o Je T'aime! - em coro também.
A venda do disco era então proibida em Portugal e (a minha querida Mãe nem sonhou, eu nos doze anitos...) foram empolgantes os meus primeiros slows com a minha Esmeralda... Jane Birkin era linda - constatei depois - e tinha umas pernas maravilhosas. Andaria talvez uns dez anos à minha frente.
Muito tempo depois dei por ela cartaz na Casa da Música do Porto. Vinha cantar Gainsbourg que morrera já. A ideia de ouvir ao vivo o célebre Je T'aime Moi Non Plus fez-me nem hesitar: comprei o bilhete que esqueceu-se de me recordar quando foi o espectáculo - possivelmente em 2005 ou 2006.
O Je T'aime é que ficou na gaveta. Ou por falta insubstituível do autor, ou porque ia lá longe aquela voz teenager ou por mera cautela, não viesse a Sala Suggia abaixo.
Mas Jane Birkin, de microfone na mão, percorreu todas as filas de cadeiras de ponta a ponta, piscando o olho, sorrindo, chuando beijinhos. Tocou-me no braço, fez ar simpático... Ce qui nos intéresse dix ans à l'avance, Jane?
E teria sido tudo o que fosse para ser...
Agora (a notícia impressionou-me) Jane Birkin partiu deixando para sempre a sua passagem pelo meu assento. Que descanse em paz; ou melhor, que se divirta em paz e mande daqui um abraço ao Serge, um bom rapaz afinal.