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Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Os jaquinzinhos e as pombinhas-de-leque

João-Afonso Machado, 16.08.23

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O tempo incerto da praia dá nisto. Na fuga à nortada ou ao nevoeiro, o lazer dos tios que não vão a férias para se bronzearem, raça de caçadores e pescadores.

A maré está de feição e o peixe chama por nós, pelos sobrinhos também. Sob as árvores do jardim na vila, de olho nas águas do rio pejadas de jaquinzinhos. O dia será isto, sentado na amurada, assaz fumado de Português Suave (sem filtro) e sobejamente conversado e rido.

(- Pai, Pai, eu queria uma cana de pesca, o Tio Manel dá-me o carreto!... - Filho, junte o dinheiro, não gaste, encha o mealheiro, e depois se vê....)

Os tios divertem-se à grande. Aquilo parece fácil, é só lançar e puxar a linha com mais outro jaquinzinho a rabiar na ponta. Sempre entre uma conversa pegada acerca do último serão de bridge, seguramente um jogo de cartas e de discussão. Um e outra indecifráveis.... Pelo meio, o futebol, as perdizes que se avizinham, alusões soltas a «gajas». Mais uns tantos Português Suave fumados. Na mudança da maré, o peixe fugindo também, - Eh pessoal, por hoje está feito...

E o destino, rampa acima, é a casa da Tia Maria Luísa, senhora já de avançada idade que não prescinde da sua Ana, a criada.

A melhor cozinheira do mundo, a Ana. Será dela a fritada dos jaquinzinhos para amanhã. Com batatinhas aos palitos. A Ana tem outras artes, o seu pudim único - justamente o "pudim da Ana" - e um amor à gente (velhinha Ana!) que a pendura escanzelada e desdentada em incontinentes beijinhos nos nossos pescoços.

Estamos convidados, a Tia Maria Luisa quer-nos à mesa dos jaquinzinhos. A vida é assim, as águas transparentes do rio e o que elas dão. Conta-me o Tio João, enquanto nos lambuzamos com o petisco, a Tia Maria Luísa fez questão de levar a Ana (querida Ana!) ao Jardim Zoológico, lugar decerto espantoso para uma vimaranense, o Inverno passado. A Ana foi, e mirou e remirou com a maior atenção. Perguntada no fim sobre o que mais gostara, nem hesitou: - Oh minha Senhora, eu gostei de tudo; mas lindas, lindas, eram as pombinhas-de-leque!