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Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Escritos da Papermate do Avô

João-Afonso Machado, 19.11.23

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A moderníssima esferográfica do Avô (esses instrumentos do Avô naturalmente ficaram em mãos de quem os utiliza), vestida de azul correndo no papel o espaço enorme a que o mundo pertence, contornou à cautela a multidão. E assim evitou a esquizofrenia ululante. Tal qual o Avô desprezava o berreiro e dele fugia a sete pés.

(O Avô escrevia escorreitamente, assertivamente, jamais alinhou em manifestos e tinha por péssimos os lugares-comuns... Pior do que estes só a pretensa originalidade...)

Pois a herdada esferográfica, utensílio corrente, passou ao lado dessa gente que faz por ser notada, e grita, brame, pula, acusa e diz-se vítima. A multidão forma-se geralmente sob o pretexto da incomprensão. Mas tudo registou, perspicaz, a esferográfica. Implacável e dada a pormenores, imune a escritas borradas - talvez em lágrimas pingantes da tinta do tinteiro... Coisas mais literárias...

É de crer - ó Papermate! - vais tu  (mas quem?) rasgando o papel em fúria incontida ou a dar furiosa na prosápia dos oradores de ocasião, pretensos inovadores na escrita, auto-apelidados ídolos das multidões.

As multidões... Ou a mentira prevalecente já no tempo da Papermate do Avô, esta pela verdade da Verdade. Contra os loiros beijinhos que tapam o sol com a peneira. Sempre asséptica, a Papermate do Avô... Mas, certamente senhora da sabedoria, essa relativa expressão na escrita livresca. E íntima de Thémis, por isso inteiramente capaz de julgar em justiça, - o ser literário não é um esforço de vontade, uma vocação treinada com halteres; é somente a natureza do detentor da esferográfica. Nada se inventa, nada se força: ou há naturalidade ou a cópia é descarada e de falsa qualidade.

Chegarão os rabiscos da Papermate ao destino devido?

Provavelmente não. Mas isso conta pouco e serve apenas o barómetro do blog. Thémis é presente e um homem vale por si, nem que haja propagado sangue iníquo. Até sabendo que o caminho é doloroso, Thémis mantem a balança e o destino aos deuses cabe decidir!

Mas sempre como o Avô: escrevendo fora, e longe da multidão, uma escrita clássica e despretensiosa, à margem da moda, somente com a Papermate a dar eco à alma.