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Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

"Insurreção"

João-Afonso Machado, 28.06.24

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Já todas se calaram, as vozes

que do meu Bisavô à sua responderam um dia.

 

Foi o invisível instante de uma centúria…

 

Mas Centurião! Ordenarás a morte em doses

de gula e luxúria – sê alvar e sinistro, cabrão,

devorarás dores atrozes

 

mas as palavras do meu Bisavô

essas pouparás, essas ficam, essas não!

 

 

Nem tudo foi em vão

João-Afonso Machado, 24.06.24

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Os açudes são a música a espumar e os mistérios do caudal uma tentação, seguramente o sonho sempre vivo. Já os tínhamos visto a montante, como o sol destapando os fundos arenosos e eles, os barbos, as goelas abertas, a barbatana à ré como um radar.

As águas, a sua correria, os seus tesouros, não ajudam a tranquila preparação das canas. A torrente está ali, o espírito a furá-la como uma sovela atrás do peixe, esqualos (na proporção) desmedidos. É uma excitação atabalhoada de linhas e anzois e batata frita a esfarelar-se nos dedos.

Por fim o primeiro lançamento com a boia, qual foguete, já no infinito. Recolhe-se e de novo se lança, um, duas, três, tantas tantas vezes. Com a expectativa da grande pescaria a esvaír-se, mas o que terá sucedido aos barbos afinal?... Hoje é dia não, dia resignado sob a preguiça do sol ainda alto, todo suado, nem a espuma e o assobio das águas lhe dão alma e alento. Do lado de cima do açude, nesse aquário, o resultado não difere mesmo agora que o sol cai, cai, continua a cair comido pela sombra. Sabe-se entretanto, a maré não é de batata frita, antes de milho cozido. Desarmados! Lado a lado com o filho, um participante a estrear. O desalento, a pedra a oferecer assento, já somente a alva cantiga do açude... - Filho, vamos embora, por hoje está visto... - Pai, só mais um lançamento, pode ser?

Claro que pode. Um lançamento que é uma semente a grelar um regresso. Nem tudo foi em vão essa tarde de batatas fritas inúteis.

 

Residencial Borges

João-Afonso Machado, 19.06.24

O início da tarde abafava Baião quando chegámos, felizmente com mesa reservada e entre as espessas paredes graníticas da Residencial Borges. Na rua, um ou outro automóvel de passagem, nada que lhe tirasse o sono, e o restaurante muito bem posto, sala ampla e quase cheia de comensais e da insubstituível virtude do silêncio.

A Residencial Borges já completou 90 anos. Sobreviveu aos seus fundadores e, desde 1985, nela reina prestável e atenciosamente o Sr. António Pinto.

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O nosso destino era Santa Cruz do Douro, a Tormes de Jacinto Galeão, posto o que a ementa havia de ser condizente. Lá iremos...

Uma primeira palavra, porém, para o formidável desfile das entradas: bocadinhos de porco assado, bolinhos de bacalhau, pedacinhos de alheira, cogumelos, peixinhos da horta, ovos mexidos com salpicão... E o branco de Tormes (rótulo da Fundação Eça de Queiroz) chegando já à mesa, garrafas dele.

Seguiu-se a praxe da canja de galinha, como outra igual jamais comi.

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E finalmente o arroz de favas e o frango alourado. O amigo Zé Fernandes descreve o procedimento de Jacinto, em face do pitéu - «de novo aqueles seus olhos, que o pessimismo enevoara, luziram, procurando os meus. Outra larga garfada, concentrada, com uma lentidão de frade que se regala. Depois um brado:

- Óptimo!... Ah, destas favas, sim! Oh que fava! Que delícia!»

Foi assim mesmo. E o frango alourado também levou pela medida grande, tudo rematando com um dulcíssimo leite-creme.

Contas feitas - aliás, espantosamente comedidas - ficou a certeza de um regresso em breve. E para a Quinta de Vila Nova (Tormes) seguimos viagem entre A Cidade e as Serras...

 

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