A sardinha assada primeiro; depois o fim do mundo
Era ainda Maio, com mais de meio caminho andado, quando acordei cismado em sardinhas assadas. Numa friagem de inverno, mas já com o Senhor de Matosinhos a desmontar as tendas. - Helàs! - levantei-me - O tempo é agora!
E fui por elas. Não precisei andar muito, bastou atravessar a rua, os meus amigos do restaurante Portuguesa haviam de estar providos e garantidos de qualidade, como realmente estavam. Vieram umas cinco para o prato, rijinhas, escoltadas em batata cozida e o fatal pimento mais o tinto maduro da praxe. Esta a descrição factual. Ponto.
Segue-se o travessão - o manifesto retomar do ciclo dos verões, mais um a chegar, não sabemos se nevoso. É que hoje já nada bate bem, e amanhã ainda menos. Assim a sardinha não alterne o seu ciclo de vida e não se transforme em pitéu de Ano Novo...
Soube-me em grande o sabor dos seus bocados de sardinha jovem, como os de uma escrita que vacila na surpresa do quotidiano. Como se comentariássemos geopolítica, ou a aproximação da Rússia à China. Tenebrosas coisas... A guerra à nossa porta...
Sem pretensões a uma orquestra de swing, deixemo-nos ir neste baile de agora, saboreemos e celebremos a sardinha assada nesta pátria de poucas espinhas cosmocêntricas.
Porque qualquer dia adeus Portugal. Lá para o sul (e mesmo entre os tripeiros), quantas lojas de souvenirs com os seus stocks feitos monos, se encherão de teias de sardinhas em azulejo ou magnete para deitar fora!?