Nem tudo foi em vão
Os açudes são a música a espumar e os mistérios do caudal uma tentação, seguramente o sonho sempre vivo. Já os tínhamos visto a montante, como o sol destapando os fundos arenosos e eles, os barbos, as goelas abertas, a barbatana à ré como um radar.
As águas, a sua correria, os seus tesouros, não ajudam a tranquila preparação das canas. A torrente está ali, o espírito a furá-la como uma sovela atrás do peixe, esqualos (na proporção) desmedidos. É uma excitação atabalhoada de linhas e anzois e batata frita a esfarelar-se nos dedos.
Por fim o primeiro lançamento com a boia, qual foguete, já no infinito. Recolhe-se e de novo se lança, um, duas, três, tantas tantas vezes. Com a expectativa da grande pescaria a esvaír-se, mas o que terá sucedido aos barbos afinal?... Hoje é dia não, dia resignado sob a preguiça do sol ainda alto, todo suado, nem a espuma e o assobio das águas lhe dão alma e alento. Do lado de cima do açude, nesse aquário, o resultado não difere mesmo agora que o sol cai, cai, continua a cair comido pela sombra. Sabe-se entretanto, a maré não é de batata frita, antes de milho cozido. Desarmados! Lado a lado com o filho, um participante a estrear. O desalento, a pedra a oferecer assento, já somente a alva cantiga do açude... - Filho, vamos embora, por hoje está visto... - Pai, só mais um lançamento, pode ser?
Claro que pode. Um lançamento que é uma semente a grelar um regresso. Nem tudo foi em vão essa tarde de batatas fritas inúteis.