Decerto a final memória vilacondense
Vai morrendo a velha Avenida que foi a espinha dorsal de todas as histórias. Surgem às janelas vozes assustadas, terá corrido a maldicência de algum contágio pestífero; outros fogem já em direcção à Vila e parte do casario é morto, fatalmente. Nem o incontável número dos automóveis estacionados opera o milagre de ressuscitar a nossa Bento de Freitas, menina e moça de outros tempos de saber ser e estar.
E na praia, entre as fileiras de barracas, há pombas pousando sempre que surge o homem das bolas de berlim... Migalhas, valha-nos serem só migalhas... e o areal estreitado, uma multidão que não quer saber e prolifera.
Ainda assim o sol. E uma comedida nortada. Subitamente duas ou três caras conhecidas e apresentações, são avós, há filhos e netos e respeito. Decorreram mais de trinta anos...
Arrisco o labirinto das barracas e quase tudo me é estranho. Por vezes um vulto, uma memória, uma fisionomia ainda no meu arquivo mental. - É ele, sem dúvida!... - Mas sou apenas eu com os meus botões, os botões dos outros brilham de hoje, por norma num mundo não o meu, sem Cronos nem o fio condutor do Passado.
Não esqueço aqui as gaivotas. Lá permanecem, esganiçadas e sociais. Entre magotes de eles e elas, degrauzitos abaixo, junto à rampa para a borda de água. Na agonia da Avenida, talvez a praia guarde ainda ilhéus de saúde. Averiguarei.