Marujo modo de ser
Por todo o correr dos anos, mesmo depois do (como escrevia Camilo) tingir dos bigodes da alma. Eventualmente nas longas expedições dos bacalhoeiros. Não decerto na marinha mercante, hoje toda o metálico burburinho dos contentores, ou os petroleiros de negra caganeira sobre as aves dos oceanos; e na de Guerra jamais, era o que faltava, a formatura no convés, aço e mais aço - aço rotativo e tonitruante - a abrupta montanha hierárquica rolando dos almirantes e comodoros até nós cá em baixo.
Marujo de modo de viver livre a bordo do mundo.
Fosse num ferry, fosse num bote, numa falua, de margem para margem, o que somos todos senão uma travessia? (Desta feita apimentada por uma dose de verdade por cada três das mais descaradas mentiras que só os turistas tragam e pagam, em gorjetas isentas de impostos...)
Ou mesmo em traineira sondando e perseguindo os cardumes, o cintilar das escamas, as memórias escritas antes da hora das redes. E o cálice de bagaço, o beliche, o gorro de lã. É bem certo, as tempestades sobrevoam a faina piscatória como os abutres no estertor da morte nos desertos. Mas o colete estaria sempre a jeito na altura dos naufrágios, assim como uma mantinha e uma botija de água quente a prevenir a hipotermia de quem se agarra às tábuas de salvação...
Marujo, pela vida toda marujo. Que o leme compete ao mestre, ao arrais - e o leme jamais!