Torres Novas
O foral é de D. Sancho I e com ele foi o fim de muitas gerações de cristãos e sarracenos a roubarem-se mutuamente a terra. A partir de então os portugueses poderiam gozar tranquilamente a sua riqueza agrícola sempre muito irrigada pelas águas do rio Almonda.
De modo que o castelo, o velho palco dos cercos e das conquistas, é o sopé e o cume da história, o berço de Torres Novas,
ainda agora com as suas peças todas e a sua pose nunca esquecida de guardião
No interior, um lauto jardim arborizado onde vicejam as gralhas talvez oriundas de qualquer maçadora cidade europeia, que transbordando delas são aos milhares... Por Torres Novas se fixaram...
Depois a vila desce as escadarias do castelo, passa à Misericórdia
e embrenha-se por ruas estreitas de comérciozinho muito simpático.
Sempre sem parar, não tarda chega ao Almonda. «Pista internacional de pesca desportiva», lê-se numa placa...
E do alto da ponte a gente é cercada por cardumes de barbos ou de escalos opulentos, por bandos de anatídeos, todos - escamas e penas - na mais sã fraternidade. Há laivos de bucolismo junto à Travessa do Açude Real
e, a montante, uma obra espantosa de represamento de águas (talvez o Açude Real) - uma escadaria monumental, faraónica,
em cujos degraus cimeiros os patos se banham e debicam os limos e as suas escorrências.
Enquanto tal, os barbos regalam-se de oxigenação, parecendo veranear na praia de dorso ao sol.
Ouve-se uma ode à abundância, os versículos vivos do milagre da multiplicação do peixe. E Torres Novas gozando pacificamente o seu fim de tarde no parque, na esplanada, depois de ter homenageado os seus venerandos moinhos e lagares
e o que resta das muitas noras e alcatruzes que durante séculos içaram a beberagem dos plantios.
Subindo ao Largo do Salvador, melhor nos associamos à quietude estremenha dos torrejanos...
Quietude estremenha!... De uma Estremadura que é morta e devorada pelo Ribatejo, pelo distrital poderio de Santarém. Portugal na posse do administrativismo sibilino que nos leva as regiões naturais, impõe a indústria em sítios de culto nacional e constrói, constrói, não cessa de construir, assim diluindo as marcas mais cativantes de Torres Novas.
Guardemo-las connosco, enquanto há rasto delas...