Aparições na Granja
Saibam todos, long time ago, fui condenado a 150 anos de ostracismo na Granja. Confesso, era, à época, um rapaz um pouco irrequieto. Um falacioso... Incomodado com tal sentença da Péricles de lá, sem apelo ou agravo, e desobediente por natureza, prossegui as minhas investidas a essa mesma Granja, a coberto da noite, embuçado, a pistola aperreada. Com um alvo na mira, um alvo em que nunca acertei no coração.
Sucede isto a todos nós. Os anos passaram e o policiamento afrouxou. Mas o lar de idosos partilhado é ainda uma impossibilidade, que a guarda não baixou e a Péricles mantém o zelo.
E eu, com provas dadas de fidelidade e bom comportamento, cá vou arrastando a minha cruz. A Granja - praia - é uma tolice. A terrinha, um lugar muito simpático de viver. Faltam somente pouco mais de 110 anos... A gente, se quisesse, alcançava a comutação da pena. Tudo é possível.
Mas não. As linhas telefónicas funcionam e os contactos são assíduos. Ela é linda, conhecia-a no Douro, caçámos os dois... Azar meu, o estafermo da juiza, toda empertigada, lixada (lixadíssima) é amiga dessa flor. E haverá outros motivos...
O relato prossegue em Espinho, em almoçarada de lulas, o mais agradável e mui prodigioso de aproximações minhas à chefatura do meu coração. Mas sempre debalde!
(Gostaria de acrescentar esta ser uma história da minha imaginação. Mas, não sei porquê, não consigo, mesmo querendo não consigo...)