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Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Não estava nos planos...

João-Afonso Machado, 30.11.24

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... mas lá veio ao mundo. É um conto só e vai a concurso, desportivamente, - apenas para concorrer, sabendo-se desde já presa fácil nas águas de alguns tubarões.

E, de caminho, deixa um recado: todos temos os nossos Baltasares, ainda que com outro nome qualquer. Os nossos Baltasares estão na família, na mercearia, nas férias, na rua... E, se não cuidarmos deles, todos convergem para o eclipse total, uma escuridão fria e sem retorno, perdida no cosmos. Eis o que tenho tentado evitar aconteça se se descontinuarem estes meus Baltasares.

O conto podia chamar-se Seis séculos deitados fora?, mas seria demasiado alarmista ou derrotista, e o título apenas um pouco menos extenso do que o texto.

De todo o modo, se houver por aí algum curioso, o livro está disponível.

 

O bosque. Nós próprios

João-Afonso Machado, 27.11.24

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Tudo será muito rápido, o instante de um silencioso curto-circuito. As luzes apagar-se-ão, caídas abaixo de fios secos de lenha. Num deserto esquelético e de algumas sobras esturradas de verde solitário e moribundo.

São assim as finais semanas que antecedem a aridez. Húmidas e de chão atapetado de podridão, na expectativa de dias maiores e melhores. No desajeitado andar das salamandras, talvez no sonho do levante de uma galinhola. Curiosidades e anseios de velhotes, afinal a crença dos botões das flores regressando às ramagens. Até que, meses volvidos...

O ciclo não pára. Entre os carvalhos, já veteranos, a juventude de uma sequóia, a promissora perenidade da vida. E deste lado a varanda e uma tarde por conta da idade e da contemplação das memórias dela escorrendo.

O tema é o arvoredo. Mas bem podiam ser as estações humanas. Tudo é o mesmo, apenas os anos nos atrasam a percebê-lo. Por uma questão de porte e altura, tão-só, nunca pelas migalhas que são as nossas décadas antes do reencontro com a semente. 

 

Um, dois, trinta minutos de jazz

João-Afonso Machado, 23.11.24

PRETO E BRANCO.JPG

A tarde toca e a multidão não debanda. Ouvem-nos ainda, a nós os três, tolos andados pelo planeta e chegados com alguns bocados de jazz na memória do ouvido. O que baste para o repertório de uma horita, talvez mais, e sempre vai valendo a pena, soam os metais das moedas sem a percussão dos impostos.

Velozmente, ou nem tanto, somos velhos. Hoje pedintes, com meios tocados de troca, amanhã esfomeados, nós os três, doutorados em sol e chuva e nas muitas teorias indiferencialistas. É assim, já não poderá deixar de ser assim.

Escuto e oiço aplausos. Trota menos mal a coisa... E por segundos sonho o sonho da fama e dos cachets bem alombados. Acordo num instante com a caixa das esmolas à vista. Sim, as esmolas, todos os dias as esmolas, a sopa da noite e uns copitos de vinho a aquecê-la...

Gozámos muito a vida, eu fui ferroviário até ser preguiçoso de profissão. Tão digna com outra qualquer. E bebi-a de um trago só, no intervalo em que aprendi a soprar o trompete. Dos meus companheiros sei o nada que eles sabem de mim. As palavras são para se pouparem e os abrigos dispersam-se na cidade. As histórias, uma mera invenção nos intervalos da sobrevivência. E o órgão um instrumento por enquanto com rodas e um tecto num vão de escadas. Depois disso talvez o fim da banda e do mundo também. 

Mas quando a morte chegar - autorizado a falar por nós os três - que seja breve e muito eficaz. Com cada um às costas, correndo porta fora. E a Eternidade em que não acredito, algum passante a sustentará pela saudade, acima dos torrões que nos submergirão no oceano dos ignotos e esquecidos da crueldade do tempo.

 

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