Jardel cachorrinho
No termo do passado milénio, o bando mudou-se de Trás-os-Montes para Monfortinho, terra desconhecida e longínqua. O bando éramos nós, caçadores, e Monfortinho uma "california" de perdizes, o paraíso prometido depois de milhares de socalcos subidos e descidos no Douro e os regressos tantas vezes de mãos a abanar.
Em Monfortinho, pelo meio da manhã, já vinhamos ao carro recarregar as cartucheiras e o guia trazia consigo uma magnífica parelha de perdigueiros, uns artistas como nunca iguais apreciáramos.
De pronto, então, a ideia de adquirir um cachorrito do seu canil albicastrense. E fomos falando em prazos previsíveis de novas ninhadas.
Em 2000, por fim, entrei estrondosamente nos "entas". Com uma surpresa preparada com sigilo e rigor pelos meus amigos: um espantoso jantar no Porto, rosbife, os melhores maduros durienses, muita gente sentada numa mesa descomunal e empregados de casaco branco e lacinho a servirem. Já no remate do bródio, um dos decanos ergueu-se e bateu palmas: logo surgiu um funcionário com um caixotinho que poisou no chão e abriu, dele saindo, todo bem disposto... o Jardel!!!
A rapaziada deslocara-se na véspera a Castelo Branco, a buscá-lo, para mo oferecer no dia do meu aniversário! Em 2000, com essa mesma imposição - Tens de lhe pôr o nome de Jardel...
E assim foi. O Jardel ficou comigo no Porto, de início algo roedor e incontinente. (Nunca esquecerei aquela mijinha em cima da ficha tripla do computador, de urgência transportado à oficina...)
Mas o amor paternal e filial jamais deixou de crescer. Levei-o a primeira vez à caça, muito a medo (não fosse ele perder-se), à Quinta do Cotto, em Cidadelhe, Mesão Frio. Num fugaz domingo de manhã, sem quaisquer expectativas senão a esperança de que o Jardel entendesse - como entendeu - ao que ia.
Seguir-se-iam (em sequentes capítulos) dez anos de parceria, alegrias e grandes feitos do Jardel. O mais bonito perdigueiro que alguma vez foi meu.