Premonições e perguntas inúteis.
Nem sempre me cruzo com Vergilio Ferreira e, não negarei, evito-o por vezes. Muito recentemente, porém, foi como se nos esbarrassemos na dobra da esquina. Ele vagueando por ali, eu vindo do sul, acabrunhado, péssimista, com pressentimentos maus. Achei-o, talvez por isso, perfeitamente conformado com o destino, a deixá-lo deslizar como o rio já não distante do mar. A margem era ali mesmo e, na sua argúcia, não deixou passar o meu semblante tão contraposto à luz desse belo dia de inverno almoçado com excelência, ainda por cima.
(Mas o que me esperaria à chegada... A mim, que conheço tão bem certa gente, certos tons de voz...) - Nada se avizinha de bom, não lhe parece, Mestre?
E Vergilio Ferreira escreveu mais tarde: «A pergunta era tão clara que eu não achei uma sombra para me esconder».
Certo é, à chegada fui atropelado por um cão qualquer. Desses que emporcalham a dignidade dos demais. E o pior: o polícia, por acaso filho meu, deu-lhe razão, eu atravessara a rua oito minutos mais cedo, incapaz de esperar pelo bicho!