À despedida
Quando pedalávamos as nossas bicicletas, velho Amigo, não era assim. É certo, já todos os comboios tinham passado e só restava a ruína do apeadeiro. Lembras a escaqueirada ruína e os seus vidros estilhaçados, o putrefacto telhado? As paredes quase brancas que os anos mantinham diziam silenciosamente "Outiz", era o mês das andorinhas e o bastante para o seu ninho... Para nós, o prenúncio de cinco quilómetros a subir em bicicletas de antigamente e os anos... - raios partam os anos! - eram anos de pernas a dar aos pedais, cagão seria quem derreasse a meio.
Eram cinquenta anos para trás...
O descalabrado apeadeiro deu em bar, a nossa juventude na dos seguintes, tão todos um - quão desengraçados. Até usam capacete... Já não é o nosso tempo, mesmo porque já estás fora do tempo....
Ficaram as pedras, as telhas afanadas, a via férrea ainda morna dos derradeiros comboios. Um adeus linha adiante... E ficou a eternidade do apeadeiro com a tua eternidade, as bicicletas que o meu Pai ralhava se intervalassem a descansar - Mas que merda de gajos são vocês?! - Ficou meio século em que, malandro, me tiravas do sério e incendiavas a minha pachorra.
É como se em Pindela bebessemos agora uma caneca de branco fresquinho. E, digo eu, - acomoda-te na varanda sem fim e dorme a tua sesta infinita.
Mas antes dá cá um abraço e desculpa dissídios recentes e mais qualquer coisinha. Meu velho, dorme, dorme, dorme sempre, como sempre gostaste de dormir.