A extraordinária paixão de Alexandra
Alexandra vivia os espantosos dias da juventude passada com o indisfarçável sarcasmo de um rodopio afinal voltas lentas, solitárias e sempre mais esporádicas. Gongorismos à parte, Alexandra apertava-se em armaduras quase couro, tolhida por comichões e alergias, sem que alguém a coçasse. Como quaisquer horas longas de uma avó com os netos distantes.
Assim foi que inventou o ruído e a troça vã ou vingativa. Modernizou-se em mamas juvenis e deitou o fel cá para fora, bolsado no barro que lhe alisava a cara. A política, as figuras de referência de uns tantos, as convicções dos demais, tudo servia a esse auto-exercício de jovialidade. Alexandra, sonhava ela, - Alexandra ainda estava aí para as curvas.
Acendia o cigarro no topo de uma boquilha, aconchegava ao pescoço a peliça de coelho, dava um toque dans le chapeau... et voilà, o circo criado e o espectáculo sem poder parar!
Alexandra pensava alcançar os seus intuitos. Não pensaria talvez nos do seu séquito. Alexandra porque não "deputava" - não havia partido que a tomasse pelo todo - desfrutava e encaixava-se na coisa pública; frequentava bares finos que ela dizia nova-iorquinos dos filmes. Mas acordava sentindo o frio desprezante da outra metade da cama.
Achava-se mulher com mundo, a espaventosa Alexandra. Deglutindo a paixão nova antes da digestão da anterior. E o Parlamento, sem parança. Onde "deputava", "deputava", e jamais seria deputada; de onde, fosse como fosse, acabaria sempre deportada.
Alexandra era a amiga do Taveira, a tal amiga afamada pela sua conversa sobre o banco inglês onde tão bem conhecia o Déficit - bem vistas as coisas, um excelente rapaz!!!