A Apúlia mas só depois
É feio mentir e por isso ninguém negará o robalo e a massada de marisco estavam de estalo. E eu estava na Apúlia dos outros, de uma já multidão de outros, apertado contra a parede e atordoado pela imoralidade, na mesa vizinha, de um ser descomunal de crina loira e a voz aguda de todas as sopeiras unidas. Uma carnificina como só um verão recém-chegado consegue praticar.
Quis respirar, paguei à pressa a uma menina nigeriana de fresca data connosco, exprimi-me em inglês e dediquei-lhe umas coisinhas dos Beatles, dizem que mundialmente conhecidos. Cá fora chovia com inclemência, trovejava, a crina loira ainda relinchava.
Vim para sul um nadinha, ofegante, espreitando a Apúlia acastelada sobre a praia. Trespassada por uma neblina que me apaziguava a taquicardia, naquele instante a minha Apúlia, essa ilusão afinal, depois do ataque demolidor do timeshare da temporada. No qual, como se comprenderá, não me incluo.
No fundo, andam aí à solta dois penosos meses de barracas vendendo toalhas, alpercatas, chapéus, brinquedos... ou moscas besuntadas no creme dos pasteis; e corredores multigeracionais, estrados de madeira suados no pó da casa-fantasma em obras ao sol.
Até Setembro, então. Até à volta da Apúlia do peixinho com vagar à mesa e das águas amenas não chocalhadas senão, talvez, pelos ecos romanos dos sargaceiros. Da Apúlia de malas feitas para os tempos outonais e os olhos melosos para os seus parceiros de hibernação. Como eu.