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Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

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A Herdade do Vau (em Quintos, Beja)

João-Afonso Machado, 20.01.25

Precipitámo-nos, sei lá quantos anos atrás, esses cabeços abaixo entre perdizes que levantavam de toda a parte, e só parámos na margem do Guadiana. Pelo meio, uma casa em ruínas, de generosas dimensões, completamente destelhada, guardando ainda uns vestígios de janelas e soalho.

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Estávamos na Herdade do Vau, outra vítima da Reforma Agrária, outra cooperativa falida... E um projecto logo a maquinar as ideias de um de nós, o MSO.

Na vez seguinte (na seguinte época venatória, provavelmente), já naquelas terras  esquecidas proliferavam os bardos de vinhas novas. O ressuscitar do Vau tinha começado. E a cada outro regresso mais novidades: mais casa, mais anexos, comodidades e amplitude de terreno, as primeiras produções de vinho. A Herdade, antes um sinal antagónico da presença humana, chamava gente a si e mantinha todo o seu contraste com a planície alentejana.

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O vinhedo foi uma primeira fase, procederam-no os olivais. E o turismo e as ervas aromáticas. E a charca e as garças e o Guadiana no fundo do vale sem fundo à vista, caíndo de açude para açude, remoínhando tomado de correntes como se a ganhar forças para o mergulho impossível, a jusante, no Pulo do Lobo.

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Será a atracção-mor da Herdade, o Guadiana. Tresandando a barbos de grosso calibre, mantendo vivas as mortas azenhas nos seus remansos; furioso, mortífero, se obrigado a passar entre pontões que o engenho humano lá foi apunhalando.

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O Vau é uma tortuosa orografia verde. Os planos são quimeras, as culturas inclinam a descer desde o topo das encostas e o horizonte visual é infinitamente assim. Chama-se jipe o nosso maior amigo.

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E por ali passeiam os javalis, os saca-rabos, uma apreciável colecção de predadores nocturnos. Os invernos acendem a lareira plurifamiliar,

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os verões suam, atiram-se à piscina, escondem-se onde o bafo quente não chega. E a velha casa, agora redesenhada em hospitalidade e requinte austero, reergueu a cabeça e vigia as operações no cimo do morro. É um fim de semana muito dividido entre as manhãs montesas e as tardes passeadas e conversadas.

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E, à janela do mundo, insiste o Vau em ser esse mundo perdido em verde. Na outra margem do Guadiana já é Serpa e, a quilómetros, tomo nota de uma edificação rodeada de plantio. Isolada. São os vizinhos mais próximos..

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Anoiteceu, por fim. Está a parafernália toda da cozinha alentejana a chegar à mesa. Freio nos dentes, que ainda sobra amanhã. MSO e a sua família recebem os amigos assim. O que se há de fazer?

 

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