- A fouce e o martelo na cabeça do Galvão de Melo! - uma exclamação plena de anacronismo. Mas assim de rompante. E nada de novo na freguesia habitual do café, já habituada à transmutação de Otelo, "O Esquecido". Ao balcão, algumas esferográficas poisadas, tão vãs quanto a pergunta - Então essa é a sua ideologia?

Qual ideologia?! Era o seu voto, o clube de sempre, sempre fiel ao seu clube. Mais ao resto se lhe oferecerem melhor...

- É que nós... - . A hesitação foi-lhes fatal. - Fouce e martelo na cabeça do Galvão de Melo!!! - Metricamente o slogan não batia certo. Que importa? Eleitoralmente era tempo perdido. Ao balcão, muitos e diversificados copos sorriam a sua neutralidade. A estratégia virou para uma garrafinha de água mineral ou um café. O militante bacano que pediu uma mini foi severamente repreendido pelos seus semelhantes. Mas, ao final, não pagou também. Aliás ninguém pagou, o melhor é estarmos de bem com todos.

É o mundo eleitoral, uma vida de dichotes, o lado hodierno da pedinchice dos pobres de antigamente. A expedição percebeu, o tempo perdia-se nesse fim de tarde. Outros já tinham parado no café e a cena era rebobinada.

Garantido está, para os próximos meses, o consumo de esferográficas na escrita do deve-haver dos clientes. Oh terra benigna! - que nada deitas fora e tudo mandas às malvas!