Chegado onde?
Cheguei já não me lembro como e quando. Talvez sequer me lembre de onde, quiçá de algum arrozal infestado de mosquitos vampirescos... Sei somente, cheguei vergado e cansado, esfomeado de dias em que se respirasse dignidade. Atulhado de lama garganta abaixo. Trazia ainda os pés molhados e calçados numa esperança qualquer. Sonhei a mesa farta, o pão e o peixe de que outros falaram se multiplicavam.
Mas foi o que consegui: as proibidas amêijoas, a água rasa e o lodo, sempre mais lodo para cima da minha vida. O rio, quero com isto dizer; as horas salobras, castanhas, sem botas, chuvosas ou queimadas pelo sol. E um alerta como um eco - Cuidado com a maré! Podes ir mas já não conseguir regressar com a enchente.
A enchente... traiçoeira como a serpente. Foi ela que tragou o meu primo e parceiro neste nosso grito de revolta por pão e peixe a multiplicarem-se.
Chorei-o. Agora procuro outro que comigo queira dividir a renda de um quarto. Senão nem as amêijoas bastarão para comer abrigado.