Com o coração nas mãos em cima do joelho
Meu velho e querido Amigo:
Este postal da Leirosa segue rápido e curto de palavras, muito grande de saudades. Mas como se o carteiro só tivesse de caminhar duas portas entre o remetente e o destinatário num trajecto de meio século. Foi tudo demasiado depressa, a tua partida à frente sem esperares por a gente. E a Leirosa parou, o mar chora ondas infindas sobre o barco do Leal que, aliás, não sai para a pesca porque os tractores avariaram e as redes dormem no areal.
Uma eternidade o mar, tal como tu, o que ficou da Leirosa agora calada e tristonha. Mas fui, o nosso encontro foi lá, comigo a escrever-te lembrando agora que sequer deixaste o teu código postal... Bah! Isto iria sempre um bocado atrasado já, de certa forma.
Dei um grande abraço ao teu irmão, com quem almocei, e tive o gosto de um beijo à Senhora tua Mãe que me reconheceu de pronto.
Assim mais próximos do que distanciados, não precisarás de outras notícias. Estamos em contacto.
Por isso o enorme abraço que faltou naquele dia. Porque não pude, tolheram-me os meus afazeres e a fraqueza do meu espírito. Assim me perdoes tu, velho Amigo. Esse abraço que é sempre Passado, porque sempre presente, e com as maiores saudades do
João-Afonso