Contramanifestação
Vive no corredor da casa no giro de tantas gerações. E prolonga-as, não acontecendo o fim do mundo, um imprevisto, o amúo da alma caridosa que se destaca para lhe dar corda. Rre-rre-rre... Sempre a despertar os ponteiros, in extremis respirando boca a boca, a mão nas correntes e os dois pesos subindo como duas pinhas que descem ao chão. Zze-zze-zze.
Na infinitude dos anos.
E se o relógio, velhinho como a moira encantada das lendas do Avô, chegar à biblioteca - o maple encoirado ao lado, é óbvio, - ou ao alfarrabista, o paciente amigo dos livros em jejum de clientes há quarenta dias de deserto, - Cronos, magnificente e magnânimo, agiganta-se, amolece e revela-se generoso.
É quando o tempo vagueia e nós perduramos. Tac-tac-tac-tac, o mundo é nosso, conquistámos as horas dele também. Tong-tong-tong, agora e depois, só para dizer que somos nós, já não o horário fdp.
Vencemos enfim. Almoçando pelo anoitecer e jantando na alvorada. De livro em livro, de manuscrito em manuscrito ou ao sabor da música e das ideias. Essa a revolução despida de ideologias, a genuína, o grande triunfo da quimera.