De volta
A saída dos passageiros teve os seus momentos de emoção e o Alfa, que se abeirava caladinho e num instante se enroscou na estação, orientou-me na rosa-dos-ventos, apontando o norte que será o meu dia todo.
Quatro rectas em ferro sem fim nem conciliação. Nos bancos da gare alguns preguiçosos preguiçando. Felizmente as nuvens e o vento moderam o sol. Somente do cantinho das bifanas, às vezes, alguns rumores, ou mesmo a nitidez de uma gargalhada.
Como se arranjaria Jorge de Sena para demonizar esta mansidão e enchê-la de personagens e de tiques?
Talvez se agarrasse a uma mexicanada que acabou de brotar de um telemóvel algures. Ou historiasse os trabalhadores calçando uma passadeira de pau lá no cu da linha. A estação não tem altifalante e o relógio de pé alto na sala de espera está certinho. O funcionário da bilheteira é atenciosíssimo e há um gajo com um chapéu acauboiado sentado no exterior: sou eu, a escrever.
O mais são horas sobre horas, não tarda a fome e a sede também. Jorge de Sena é provável contaria sobre as andorinhas, que todas já foram indo à frente. Óscar Wilde era simplesmente um exagerado, um piegas. Como alguns patrícios espalhados por aí, nos bancos da estação. Então ninguém sente o ambiente texano que se abateu sobre esta espera?
(Maldita motosserra, lá no cu da linha, que não me deixa, enfim, ouvir o Algarve!)