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Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Manteigas...

João-Afonso Machado, 16.06.25

Não trouxe, confesso, novidades espantosas de Manteigas. Somente algumas belas imagens colhidas no terraço do Hotel da Vila e a magnificência do Vale Glaciar do Zezere, em que as neves já muito escasseiam ante a arremetida primaveril.

VALE GLACIAR DO ZEZEERE (COVÃO D'AMETADE).JPG

Trouxe também uma hora e meia de aperto do esófago, descendo um estreitinho caminho de areão e sem protecções laterais. Uma derrapadela, uma distracção... e lá se ia o grande Machado, lançado no precipício. Mas compensou-me, no fundo, no Covão d'Ametade, o mais bonito raposo que algum dia vi, o pêlo vindo do prateado para o castanho da saison, a cauda farfalhuda, escapando-se entre as pedras do carvalhal. Isto de ir a guiar, contudo, é no que dá - chapéu ó fotografia!

Da berma da estrada levantavam três perdizes tão a jeito! E uma outra correu, correu, à frente do carro, até se esgueirar para uns arbustos quaisquer...

O jantar no hotel foi uma excelente truta grelhada, com batatinhas e verdura. E findo o repasto, a usual voltinha higiénica pelas ruas caladas de Manteigas, já anoitecidas. Foi então que conheci o Mendigo, a mais conseguida visão de um pobre de Cristo.

CÃO SERRA.jpg

Cego, - quase - mudo e esfomeado. A lã, comida pela traça, cavava clareiras no dorso e no lombo, que a cauda fora já completamente ratada. O Mendigo arfava à porta de um restaurante, esperando como Lázaro a caridade de alguém.

Chamei-o, voltou a cabeçorra na minha direcção e eu patinei ante a expressão do seu olhar. Recusou o que seria a minha mais conseguida fotografia da miserabilidade. Um gato aproveitou para se roçar na perna dele. A nada o Mendigo respondia como ditaria a proverbial altivez da sua raça.

Enfiei-me no hotel. Dormi mal. E saí cedo, sem mais avistar o Mendigo. Terá sido essa noite o fim?

 

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