De caminho os tribunais estão aí a chamar os advogados e os litigantes (e todos os seus adereços...); há que ter ciência e saber fintá-los. Não existe drama algum, trata-se apenas de, com a maior diplomacia, os impedir de se apoderarem da nossa vida.

Vida essa, aliás, que por vezes volta de lá amplamente enriquecida. Na minha terra (só para dar um exemplo) está colocada a mais bonita magistrada em funções à superfície do planeta. Topei-a já desencasulada da beca e pasmei: bota de cano alto, uns jeans que lhe assentavam como uma luva, a blusa da brancura das garças...

Como a Merítissima é assaz faladora (e simpática), a gente vai sabendo da vida dela. O outro dia ralhava a um jovem delinquente que arriava porrada nos pais se bebia em demasia. - Então que quantidades consome você? - Só uns copitos ao almoço - desvalorizava ele... - Uns copitos? Uns copitos? Mas isso é muitíssimo! - escandalizava-se ela; - Olhe eu só bebo aos fins de semana e é sangria, e se não tiver de trabalhar depois do almoço, dá-me o sono...

Nessa altura caiu-me a alma aos pés. Sangria??? Ó Meritíssima Juiz - quase deixava escapar - mas um jantar a dois não dispensa uma bela garrafa de vinho branco, sem espinhas ou bocados de fruta a engasgar!

É já avó. Neste capítulo o resto está por apurar. Mas como é, também, um pedaço mais nova, consente-me algumas irreverências naquela sala sem janelas, assustadoramente colorida de um pano feiíssimo nas costas dos representantes do Poder Judicial. E o meu cabelo e as minhas longas barbas, toda essa alvura, rapidamente nos conduzem às saudades d'El-Rei Nosso Senhor.

Da maior gravidade, gravíssimo, é ter processos fora da comarca. A Braga recuso ir, não consigo lugar para o carro. Idem no que toca ao Porto. Para lá do Douro está fora de causa. A não ser que o cliente custeie o transporte - mas só em carro puxado a cavalos; e não um phaetom, nem os char-à-bancs, coupés, caleches, landaus, charretes ou vis-a-vis. Já conheço isso tudo.

No exercício do meu múnus forense, irei a Braga ou ao Porto apenas num tilbury.

Tenho dito. Justiça!