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Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Não fora o alecrim e as urtigas

João-Afonso Machado, 05.11.25

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A papelaria não havia meio de abrir. E a manhã era exasperantemente curta para tão minuncioso calendário. O homem vinha pelo jornal, como se percebeu ser seu hábito, e explicava - Ela tem a mãe doente, agora atrasa-se sempre um bocadito. - (E depois ainda encontrar um buraco para arrumar o carro, qualquer comprita mais... e o almoço já cá em cima por um canudo!)

O homem, entrementes, sentindo-se certamente o anfitreão, resolveu ciceronear de vaso em vaso o plantio na praça principal. Distinguindo as duas variedades de alecrim, a inodora e a florida, toda cheirosa - Ora passe aí a mão, passe e leve-a ao nariz.

Aroma inimitável. Não fosse o cimento e os passantes e a cidade toda, em volta seriam as gigantescas Papilios esvoaçando para a máquina fotográfica. O homem agora atarefadíssimo, tirava as ervas daninhas do canteiro e maldizia dos funcionários municipais. (Um pouco daquele alecrim trazido para norte... Mas não, não há como...) Falante qual enciclopédia, ele abordava entretanto as propriedades medicinais de algumas espécies que encontrava por ali. Nenhuma, porém, com o dom de fazer chegar a patroa. - E isto são urtigas. Ora passe aí a mão. - Passe você, amigo. Eu já passei vezes de mais quando era catraio. - E ele, como se imune, passava e repassava.

Passou, por fim, em passinho corrido, a dona da papelaria. Não vinha especialmente sorridente. Satisfez a procura do homem e de mais uns tantos clientes de jornais, que também aguardavam. Já quanto a monografias ou história lá da terra, - Não, disso nada temos, não. Pois... passe talvez na Biblioteca.

Não chegara ainda, todavia, a hora de abertura desta... Esperava-se, o tempo encurtava mas não passava...

 

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