No Entroncamento
A cidade (e o mini-concelho) que nasceram dos comboios. Que há um século seriam pouco mais de nada, mas já ali entroncavam as Linhas do Norte e da Beira Alta.
Depois terão chegado as oficinas. Compreende-se: estamos no centro do País. Num ponto nevrálgico, também, para que a tropa (os militares dos Abastecimentos) aquartelasse no Entroncamento, atraindo mais gente ainda. Mas raro será o nativo que não descenda de um ferroviário. Enfim, dificilmente se arranjaria melhor ambiente para ajuntar relíquias e abrir as portas do grande museu nacional dos comboios. Equidistante. Donde, há tantos anos o meu propósito de o visitar. E chegara agora o grande dia, pelo braço do meu velho amigo MC (a quem gratíssimo estou), e pelas suas recomendações, - apanhei o Intercidades e desembarquei na infinitude dos carris de marcha, manobras, arrumos, entre edifícios sucessivos e um imobilizado activo móbil... Ao coração do Portugal comboniano (Deus me perdoe), com destinos, composições e finalidades misteriosas. Momentos agitados. Dirigi-me ao hotel, do outro lado da praça da estação, descarreguei a trouxa e fui tratar das minhas prioridades: a visita ao museu.
É uma coisa enorme, em volta de alguns recomendados pavilhões. Sempre gostei de comboios, neto de um engenheiro da CP, meu querido padrinho. E no Entroncamento matei saudades revendo a Andorinha, a nossa actual mais antiga locomotiva,
de sempre guardada no Minho e supostamente para ali levada para restauro. (Quero crer ela regressa a Famalicão, tanto quanto não me apetece uma reedição da Maria da Fonte...) Mas outras peças me chamavam, desde a monumental locomotiva que cursava entre Lisboa e o Porto
rebocando confortáveis comboios da era pré-via electrificada até às pesadas diesel que se finaram em leitos siderúrgicos do Barreiro.
E depois as minorcas silvando no Douro ou no Minho...
Ou as pioneiras do andamento sem fumarada...
Ou, enfim, o Comboio Real!...
Cá fora, veículos impacientes e doridos. (A bem dizer os que mais me chamaram a atenção.) Esperando o quê? - o corredor da morte, ou a salvação? Terrível purgatório!
E porque o Entroncamento é mais, e o museu há de ter direito a revisita, avancei cidade adentro. Sem que ouvisse tiroteios mas ciente de que chegara a algum farwest em território português.
Junto à linha o bairro dos ferroviários, em abandono quase total.
Depois o casario de antanho
e alguns edifícios civilizados (idosos), a caminhos dos cem.
Pequeninas construções sobreviventes
e a larguesa dos arruamentos estilo "Moscavide"...
Também a mignone "Zona Verde"
destes dias de aqui, práticos e funcionais, onde os reformados passeiam o cão. Assim é o Entroncamento, mais os cogumelos diariamente despontando, nascido das ervas e esperando, como todos, um amanhã mais enraizado na arquitectura a quem o tempo tudo perdoa.