O extinto concelho de S. Pedro de Rates
... Expirou em 1836, no cair de um Portugal sempre em queda. Agora é somente a maior freguesia da municipalidade da Póvoa de Varzim. No entanto, Minho, puro Minho! (Escrevo para a tontice administrativa do mapa desenhado a régua e esquadro...) É vila presentemente, Rates, situada num alto que, outrora, lhe consentia a defesa em lances inóspitos de ataques sem aviso prévio. E com o finado ramal ferroviário de Famalicão à Póvoa a roçá-la, prenho de memórias.
(Lembro bem essa linha, ainda dos tempos dos comboios a carvão. Viajava em 3ª classe (!!!), nos seus bancos de pau e no varandim da carruagem onde, no percurso mais íngreme, dava para apanhar uvas das ramadas e muita fuligem no cabelo, até ao banho caseiro, já em Vila do Conde... Agora são bicicletas onde foi o comboio e o desprezo por esta terra ignota, com historial esquecido na pressa de chegar à praia...)
S. Pedro de Rates, todavia, não saiu do sítio onde já viveria antes da Nacionalidade. Proclamaram-no o primeiro Bispo de Braga, esse S. Pedro! Eu pertenço, porém, ao partido de S. Martinho de Dume, o conversor dos suevos, mas este é um capítulo da História, não de um roteiro de visita. Conquanto a igreja beneditina de Rates remonte ao período visigótico e a lenda se ilumine toda com a nota de que S. Pedro foi ordenado clérigo pelo Apóstolo S. Tiago.
No mais - e mais recentemente - temos para estudar o foral de D. Manuel I concedido ao «Couto, Vila e Mosteiro» de Rates e uma comenda atribuída a Tomé de Sousa, o primeiro Governador-geral do Brasil. A tudo acrescendo uma notável colecção de túmulos que muito poderiam esclarecer acerca da gente ilustre que andou por ali.
O templo é impar, constituído por três naves e, na cabeceira, outras tantas ábsides.
Não obstante, Rates vive os seus dias tranquilamente, longe dos excessos turisticos. Mas conhecendo em rigor como se preservar, como defender o seu último reduto dos estragos da propriedade horizontal. Entre largos em lajedo, pequenos templos, edifícios da idade da pedra e becos estreitos, manda o silêncio, a estranha sensação do silêncio nas imediações já das mais popularizadas rotas estivais.
A antiga sede concelhia e comarcã, o pelourinho no adro, serão talvez as peças mais marcantes.
Mais recente, certamente setecentista, a capela do Senhor da Praça. Nada é longe de nada, a escola suscita a curiosidade de saber mais sobre o seu passado
a que, porventura, não será estranha a usual benemerência dos brasileiros de torna-viagem.
Rates também preserva as suas palmeiras e um comedido toque de excentricidade transatlântica... Nunca destoando. É um achado no Baixo Minho campesino, toda ela!
Ao longe, uma esplanada assinala o único estabelecimento detectado adentro a cerca estabelecida.
Apertadamente, à saída, a rua indica o norte, a direcção de Barcelos. Os "Caminhos de Santiago" por força passam aqui e a freguesia próxima pertence já àquele concelho. Como também quanto as nossas vistas alcançam,
férteis terras de Entre-Cávado-e-Ave, robustas casas agrícolas. Enfim, quanto sobra da anarquia urbanistica a que trouxeram a nossa Província... Longa vida, pois, ao oásis de Rates!