Oprato, em Landim
Já nesta página de ciência e arte eu tinha abordado a receita da galinha mourisca, descoberta numa novela de Camilo (O Santo da Montanha) e agora fazendo furor por esses restaurantes adiante.
Talvez nem todos saibam, o genial Camilo e a sua Ana Plácido viveram a sua velhice e acabaram os seus dias aqui. Quando digo aqui, digo em Famalicão, na sua casinha de S. Miguel de Ceide, com frequentes passeios e visitas aos seus amigos de Landim, outra freguesia do concelho.
Pois é em Landim que me encontro, mais um numeroso grupo de confrades sentados à benquista mesa de Oprato.
Com o mosteiro do antigo couto de Landim bem visivel da varanda e muito acima da vulgaridade; badalando os sinos da sua torre a anunciar a boa nova: vem aí mais uma galinha mourisca montada em travessas de cerâmica regional.
A sela, ou o arção, ou o que queiram, são fatias de pão alentejano (isso mesmo, indígena do Alentejo) assado no forno e soberbamente embebido em molho espesso, carregado de aromas e sabores, com predominância do açafrão. Já a galinha, aos nacos, é completamente minhota, das velhas e rezingonas; cozida e recozida, o corpo moído à pancada, a facilitar a função da dentadura do comedor. Sobre o todo um ovo escalfado e a candura do arroz branco para ajudar a absorção de tantos unguentos. Mais a mais, as entradas tinham sido esticadas do presunto à alheira, com sucessivos apeadeiros: bolinhos de bacalhau, croquetes, rissóis...
Por isso as responsabilidades do duriense Crasto tinto (2021), qual cabeça-de-giz no seu palanque, a comandar a circulação de tanta vitualha. Muito apaladado, acrescente-se, leve, cheiroso, de beber aos niquinhos bem apreciados. Até ao pudim de laranja em que parámos o bródio (será também uma lambarice camiliana, segundo explicaram, mas não diferenciei grandes apuros no seu estilo).
Mas a verdade é uma: Oprato vai na vanguarda dos concursistas da galinha mourisca. Vindo a Famalicão conhecê-la, é lá que se devem dirigir. Em Landim, muito perto do mosteiro.
(Mesmo porque muitas dessas galinhas velhas e solteironas, de feitio insuportável e só desfeitas à porrada, vêm da propriedade da minha Família...)