Oito anos
A chaminé já chamava pelo frio do inverno mas ainda uma réstea de sol secava as espigas de milho. Oito anos. Era então um homem desenvolto, patriarcal, companheiro do Pai em quantas andanças agrícolas de minhotos contra ministros. Já não caçaria, o seu perdigueiro arrastava o fim da vida pelos cobertos em redor do pátio. Há oito anos.
Casa ampla de entrada acolhedora no cimo dos seus degrauzitos. Quase um fortificação, toda ela voltada sobre si mesma, sem se deixar apanhar num retrato só. A eira em lages de lousa valia pelo mais colorido jardim.
Oito anos. E o reaparecimento, a memória ainda muito oleada. A esmola ficou pedida - Sr. RI, onde dar uns tiros por aqui?... - Mas não dispunha de trocos, em nada poderia ser útil. Abandonara a lide há muito... E a bengala, os sapatos quase pantufas, confirmavam-no. Oito anos a moerem uma vida campestre! - Importa-se que nos sentemos na mesa ali, na eira? É que me custa muito estar de pé...
Conversou-se. - Ainda o outro dia falei no senhor seu Pai... - A informação de que o Pai já cá não está não o surpreendeu. Mas uma expressão de respeito segurou-lhe as feições. As lages da eira pareceram enegrecer e soltar um brilho lacrimoso do seu polimento de décadas e décadas de desfolhadas e malhas. Entardecia (oito anos!) e o Sr. RI tomava-se de frio. Era tempo de debandar, a eira como que se apagava também, seria de a trazer viva, luzidia. Nas despedidas o Pai voltou a estar presente. Como também o velho perdigueiro do Sr. RI. E os famigerados oito anos todos.
Dona Mécia e Dulce, muito contristadas, de cauda caída ao entrarem no carro... - Estão bem ensinadas! - Só lhes falta uma eira como a sua, Sr. RI, para preguiçarem e se regalarem ao sol...