Patti Smith
Por acaso, acabadinho de ler as Saudades de Nova Iorque do Pedro Paixão, fui desafiado para o espectáculo de Patti Smith em Oeiras. A velhice é tonta mas não esquecida nem desagradecida. E reúne histórias e corredores sonoros, ambientes cúmplices nas décadas rugosas que passeiam por aí.
Nova Iorque é Patti Smith. O presente não se ausentou, apenas resta uma porcaria chamada idade que nós quatro mandámos à merda. Paixão: - ainda bem que escreves o que na tua cabeça galopa, porque todos somos «o nome que de mim se afasta». De nós. Só terás escrito o que quiseste, mas Patti Smith anda perto, veio a Oeiras, cantou e entusiasmou.
(Conheci Patti Smith na Estrada de Benfica. Era um pequeno apartamento aí por 1980, hoje ninguém, desabitado, então tardes de muita música e discussão, e o Horses rodando e tornando a rodar no pick-up. Patti, de resto, gira e despenteada na capa do LP.)
Pois. O grupo, venerador e saudosista, quinava de uma perda precoce que eu choro sempre (Estrada de Benfica, Estrada de Benfica...). Não foi de pular, gritar ou comentar. Somente de recordar. E o concerto abriu e fechou em cheia de força e de voz - decerto já não uma voz tão ágil no conta-quilómetros das estrofes. Mas o guitarrista, sublime; e o baixista filho dela, talvez avozinha de cabelos brancos, os vincos que ainda não nos calcam...
Houve quem se agasalhasse, era noite. Eu - não! Nem saltei, somente absorvi a música, a trazê-la para o meu mundo, redivivo, arrumados os dias e os muitos anos. Retrocedi no carreiro. Insultei caminhos e o destino e apaziguei-me nos acordes e nas palavras cantadas. Na «esperança de me livrar de desperdícios, de alguma poeira entranhada num canto de mim» como sugere ainda Pedro Paixão.
«Because the nigth belong to lovers». Quão repetido refrão, meu velho LF!