Roda 20
Está lá há quatro dias, a minha bicicleta... Há quatro dias apeado e triste, vendo-as passar por mim aos bandos nos passeios, na rota da praia, nas tardes todas.
Tudo por causa do maldito furo e do pneu careca a substituir. E do Sr. Barros da oficina ao lado da ponte, sempre a dizer, a jurar e a mentir - Amanhã está pronta, rapaz. Não houve tempo, amanhã depois do almoço...
E eu volto e não está pronta. Nem o furo, nem o pneu novo, nem o guiador ao contrário, para ficar como as bicicletas de corrida, nem os punhos que já escolhi, punhos de mota com protectores.
Sem guarda-lamas, sem mais atavios, a minha bicicleta roda 20 até voa. O recorde da volta ao circuito está em três minutos e eu já consigo os nove. Com o serviço que o Sr. Barros não despacha deverei baixar logo para os seis ou sete e o resto é continuar a treinar...
Mas as motas passam-me à frente. Dentro da oficina do Sr. Barros, quero eu dizer. É trabalho melhor pago e esses nabos da Póvoa, o Ricardo e o Mário Emílio, não despegam a guedelha dali, afinam os motores, inventam escapes barulhentos e espelhos marados. Para irem armar-se defronte à praia à pesca das pequenas.
Ouvi hoje, uma peça nova encomendada ainda demorará a chegar. Ora bem! Pode ser que haja assim, finalmente, uma vaga para a preparação da minha máquina imbatível. Ainda darei autógrafos como o Joaquim Agostinho!