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Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Minês vai à caça

João-Afonso Machado, 15.09.25

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Foi um instante. Somente o tempo de o Outono passar e entrarmos no seguinte. Minês crescera, era uma senhora alta e elegante, de uma meiguice tocante. Nessa altura viviamos muito pelo Porto e a sua maturidade levou-me à arriscada aventura de uma caçada multiparticipada lá para as bandas de Beja. Em uma linha de quarenta caçadores com os respectivos cães. Se Minês se desorientasse, se se sentisse desamparada e se perdesse, aqueles longes alentejanos seriam um poço sem fundo. Bem podia eu mergulhá-los em sua demanda...

Mas tudo andou pelo melhor. As lebres eram muitíssimas esse ano e, nos primeiros momentos da caçada, saíram-me quatro, todas elas ficadas ali. Minês corria atrás das lebres e já as cobrava, voltando contente, muito ufana, a entregá-las na boca. Estava-lhe no sangue!

Foi quando me lembrei, um perdigueiro é um cão de parar, não é um coelheiro desenfreado. - Estou a estragá-la - pensei - deixando-a nesta brincadeira. 

E assim me abstive de mais lebres. Doravante, só perdizes, que nenhumas chegavam ao meu tiro.

Minês ainda não se tornara a estátua marrada que depois foi. Mas cobrava com excelência. Recordo nesse dia duas perdizes, uma que levantou para trás, obrigando-me a uma rápida meia volta e a um tiro só que a deixou caída nos moutos; e outra, vinda no vento, largada e larguíssima, também tombada ao primeiro disparo. E Minês, prontíssima, a buscá-las, a bocá-las, a entregá-las em mão...

Uma caçada inesquecível! Fomos num dia e voltámos no outro e a dona do alojamento, muito amável, não teve senão condescender: a Minês dormiria no meu quarto, conforme o usual no nosso quotidiano.

 

Vinha aí a Minês

João-Afonso Machado, 05.07.25

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O Jardel envelhecia já, coitadito, toda a vida casto porque nas redondezas não havia lady digna da sua prosápia. Era necessário descobri-la!

Foi então que me apresentaram um criador de Paços de Ferreira, dono de uma cadela que estava para parir. E a estirpe era das boas, valia a pena pagar o preço que ele pedia por uma cachorrinha.

De modo que ficámos acertados. Algumas semanas após, um telefonema e a notícia: a ninhada nascera e era numerosa. Poderíamos em breve marcar um encontro para a escolha.

Assim aconteceu. No Clube de Caçadores de Matosinhos, na Primavera de 2008. A criançada vinha toda num cesto dentro da mala do carro, com a mãe, e já gatinhavam no chão, a fugir cada um para o seu lado.

Urgia seleccionar a eleita. Não muito chorona, mais escura de pêlo - preferi o "camurça" - com indícios bastantes de simpatia, fidelidade e argúcia. E apreciando esta, apreciando aquela, encantei-me com aqueloutra, ali mesmo baptizada Minês.

Agora seria apenas aguardar o desmame e trazê-la em definitivo para o meu colo e a minha caça...

 

Jardel, cão feito

João-Afonso Machado, 24.03.25

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Ainda Setembro, talvez em 2002, voltámos a Monfortinho para abrirmos a época com umas codornizes. O grupo era numeroso, excitado e ávido, e muitos os cães novos a criarem calo para as perdizes de daí um mês. O Jardel era um deles.

Organizámos a linha e principiámos. Sem dúvida, de pasmar a abundância das codornizes e a confusão que se instalou. Tiros, a berraria dos donos a chamar os cachorros tresmalhados, quando não assustados. A formação rapidamente se desfez e o Jardel, irrequietíssimo, de um lado para o outro sem parança, mas também sem se afastar. Somente assarapantado no meio daquela feira toda.

Eis, no entanto, que entre um dos seus muitos galopezitos, ele estaca de repente, todo curioso. E lentamente estica e contrai o corpo, distende-se hirto e concentrado, a pata direita erguida quase em ângulo recto... Como uma estátua!

Já eu ensacara a máquina fotográfica e empunhava a espingarda. Aproximei-me, o Jardel sempre estático, cheguei-me mais, - Ssstt! - ele dá um passinho e a codorniz junto a si ergueu o voo. A arma fez o que lhe competia e a peça caiu do outro lado de uma vala. - Vai Jardel, busca, traz cá!

O Jardel foi, buscou e trouxe a codorniz à mão. Oh felicidade maior! Um amigo (um decano dos epagneuls)  que vinha ao lado e a tudo assistiu, pachorrentamente comentou - Pronto! Tens o cão feito!

Fora um dos que mo oferecera nos meus quarentas...