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Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Jardel, cão feito

João-Afonso Machado, 24.03.25

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Ainda Setembro, talvez em 2002, voltámos a Monfortinho para abrirmos a época com umas codornizes. O grupo era numeroso, excitado e ávido, e muitos os cães novos a criarem calo para as perdizes de daí um mês. O Jardel era um deles.

Organizámos a linha e principiámos. Sem dúvida, de pasmar a abundância das codornizes e a confusão que se instalou. Tiros, a berraria dos donos a chamar os cachorros tresmalhados, quando não assustados. A formação rapidamente se desfez e o Jardel, irrequietíssimo, de um lado para o outro sem parança, mas também sem se afastar. Somente assarapantado no meio daquela feira toda.

Eis, no entanto, que entre um dos seus muitos galopezitos, ele estaca de repente, todo curioso. E lentamente estica e contrai o corpo, distende-se hirto e concentrado, a pata direita erguida quase em ângulo recto... Como uma estátua!

Já eu ensacara a máquina fotográfica e empunhava a espingarda. Aproximei-me, o Jardel sempre estático, cheguei-me mais, - Ssstt! - ele dá um passinho e a codorniz junto a si ergueu o voo. A arma fez o que lhe competia e a peça caiu do outro lado de uma vala. - Vai Jardel, busca, traz cá!

O Jardel foi, buscou e trouxe a codorniz à mão. Oh felicidade maior! Um amigo (um decano dos epagneuls)  que vinha ao lado e a tudo assistiu, pachorrentamente comentou - Pronto! Tens o cão feito!

Fora um dos que mo oferecera nos meus quarentas...

 

Jardel cachorrinho

João-Afonso Machado, 10.01.25

JARDELINHO.jpg

No termo do passado milénio, o bando mudou-se de Trás-os-Montes para Monfortinho, terra desconhecida e longínqua. O bando éramos nós, caçadores, e Monfortinho uma "california" de perdizes, o paraíso prometido depois de milhares de socalcos subidos e descidos no Douro e os regressos tantas vezes de mãos a abanar.

Em Monfortinho, pelo meio da manhã, já vinhamos ao carro recarregar as cartucheiras e o guia trazia consigo uma magnífica parelha de perdigueiros, uns artistas como nunca iguais apreciáramos.

De pronto, então, a ideia de adquirir um cachorrito do seu canil albicastrense. E fomos falando em prazos previsíveis de novas ninhadas.

Em 2000, por fim, entrei estrondosamente nos "entas". Com uma surpresa preparada com sigilo e rigor pelos meus amigos: um espantoso jantar no Porto, rosbife, os melhores maduros durienses, muita gente sentada numa mesa descomunal e empregados de casaco branco e lacinho a servirem. Já no remate do bródio, um dos decanos ergueu-se e bateu palmas: logo surgiu um funcionário com um caixotinho que poisou no chão e abriu, dele saindo, todo bem disposto... o Jardel!!!

A rapaziada deslocara-se na véspera a Castelo Branco, a buscá-lo, para mo oferecer no dia do meu aniversário! Em 2000, com essa mesma imposição - Tens de lhe pôr o nome de Jardel...

E assim foi. O Jardel ficou comigo no Porto, de início algo roedor e incontinente. (Nunca esquecerei aquela mijinha em cima da ficha tripla do computador, de urgência transportado à oficina...)

Mas o amor paternal e filial jamais deixou de crescer. Levei-o a primeira vez à caça, muito a medo (não fosse ele perder-se), à Quinta do Cotto, em Cidadelhe, Mesão Frio. Num fugaz domingo de manhã, sem quaisquer expectativas senão a esperança de que o Jardel entendesse - como entendeu - ao que ia.

Seguir-se-iam (em sequentes capítulos) dez anos de parceria, alegrias e grandes feitos do Jardel. O mais bonito perdigueiro que alguma vez foi meu.