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Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Jam Sem Terra

(MAS COM AS RAÍZES DE SEMPRE)

Oprato, em Landim

João-Afonso Machado, 15.03.25

GALINHA MOURISCA.JPG

Já nesta página de ciência e arte eu tinha abordado a receita da galinha mourisca, descoberta numa novela de Camilo (O Santo da Montanha) e agora fazendo furor por esses restaurantes adiante.

Talvez nem todos saibam, o genial Camilo e a sua Ana Plácido viveram a sua velhice e acabaram os seus dias aqui. Quando digo aqui, digo em Famalicão, na sua casinha de S. Miguel de Ceide, com frequentes passeios e visitas aos seus amigos de Landim, outra freguesia do concelho.

Pois é em Landim que me encontro, mais um numeroso grupo de confrades sentados à benquista mesa de Oprato.

Com o mosteiro do antigo couto de Landim bem visivel da varanda e muito acima da vulgaridade; badalando os sinos da sua torre a anunciar a boa nova: vem aí mais uma galinha mourisca montada em travessas de cerâmica regional.

A sela, ou o arção, ou o que queiram, são fatias de pão alentejano (isso mesmo, indígena do Alentejo) assado no forno e soberbamente embebido em molho espesso, carregado de aromas e sabores, com predominância do açafrão. Já a galinha, aos nacos, é completamente minhota, das velhas e rezingonas; cozida e recozida, o corpo moído à pancada, a facilitar a função da dentadura do comedor. Sobre o todo um ovo escalfado e a candura do arroz branco para ajudar a absorção de tantos unguentos. Mais a mais, as entradas tinham sido esticadas do presunto à alheira, com sucessivos apeadeiros: bolinhos de bacalhau, croquetes, rissóis...

Por isso as responsabilidades do duriense Crasto tinto (2021), qual cabeça-de-giz no seu palanque, a comandar a circulação de tanta vitualha. Muito apaladado, acrescente-se, leve, cheiroso, de beber aos niquinhos bem apreciados. Até ao pudim de laranja em que parámos o bródio (será também uma lambarice camiliana, segundo explicaram, mas não diferenciei grandes apuros no seu estilo).

Mas a verdade é uma: Oprato vai na vanguarda dos concursistas da galinha mourisca. Vindo a Famalicão conhecê-la, é lá que se devem dirigir. Em Landim, muito perto do mosteiro.

(Mesmo porque muitas dessas galinhas velhas e solteironas, de feitio insuportável e só desfeitas à porrada, vêm da propriedade da minha Família...)

 

O Velho Minho, na Póvoa de Lanhoso

João-Afonso Machado, 06.01.25

RESTAURANTE VELHO MINHO.JPG

É a minha secreta reserva para estar com os que mais me dizem ao coração. (Há dez anos ainda ela vivia, e sã... O jantar decorreu após a visita ao castelo gigantescamente roqueiro, em noite de Verão, repasto cá fora na esplanada...) E agora com os filhos, em tarde ventosa com o Gerês no horizonte e mesa de almoço - 24 de Dezembro - marcada no Velho Minho, a dois passos da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso. Edifício granítico, idoso, a respirar muita honorabilidade.

De modo que entrámos com toda a cortesia recebidos. Foi-nos indicado o cantinho à nossa espera, onde abancámos e logo nos vimos rodeados de pão e tostas e de delícias do mar, que a voracidade vezes três não poupou. Um velho, um viajante do mundo e um rapaz das escritas sempre constituirão uma trindade fatalmente esfomeada. E por isso a escolha recaiu no cabrito assado. Muito aconchegado em batatinhas, o arroz na travessa ao lado e muitas verduras noutra ainda. De eleição, temperado por sabores antigos, cortado em bons nacos e regado por um Papa-Figos, tinto equilibrado, longe de certas invenções a transbordar a graduação dos maduros normais, toda a experiência da Ferreirinha nele.

Assim o cabrito se volatilizou...

E porque um dia não são dias, e os domínios da Maria da Fonte nos acordam o sangue minhoto que não pára nestas veias, à sobremesa outra tolice - o pudim do Abade de Priscos. Com todas as suas doces maldades à saúde....

O almoço demorou, a sala já era só nossa. Tão dispersa família, quando se reune é pior do que uma gaiola de piriquitos... Até que a partida se impôs, no seguimento da costumeira troca de cumprimentos natalícios com o pessoal da casa.

O Velho Minho, uma referência na Póvoa de Lanhoso. Para mim - sempre! - a ara das mais escolhidas nas solenidades do meu coração!

 

O Stop, restaurante na Marinha das Ondas

João-Afonso Machado, 29.09.24

RESTAURANTE STOP.JPG

Foi o acaso de combinar um almoço com o irmão de um grande amigo, recentemente levado pela doença maldita. Tinha sido a razão pela qual calcorreei o Litoral Centro, numa peregrinação de saudade. Eramos muito novos, frequentávamos a Praia da Leirosa, tragávamos a noite numa - assim lhe chamávamos - "boite" de só amigos, boa música, muito tabaco, algum namoro e jogo de cartas. Altas horas, findas as actividades, eu recolhia a casa; o meu querido amigo montava a bicicleta e ainda fazia uns quilómetros até à Marinha das Ondas, sede da freguesia, onde residia em férias.

Pois foi nessa terra à far-west, uma estrada marginada por casario e pouco mais, que o JP, amigo, irmão de amicíssimo, me encarreirou para o restaurante Stop. Ele convidava, conhecia o Sr.  Carlos Neves, o proprietário... Já não era cedo, a fome esbraseava. As entradas foram quase uma súplica, um copo de cerveja, paté, queijo e pão. Depois, mais pousadamente, a escolha - dada a circunstância das boas relações do JP com o proprietário, à confiança, seguindo a sugestão deste último.

Açorda de robalo e camarão - disparou o Sr. Neves. Com tal pontaria que não houve alvitre. Que viesse ela, a açorda, se possível a galope. E assim foi.

Nada mais agradável. O problema das espinhas, que aflige qualquer comedor de peixe, mostrava-se inexistente. O das malditas casquinhas do camarão também. Comemos, comemos e voltei a comer, eu só, o JP já não dava conta de mais recados. Bebeu cerveja, o malandro, ignorando os meus doutos conselhos de um branco fresquinho, marca Melão, não sei onde cultivado.

E ambos seguimos o conselho do Sr. Neves: sobre a açorda uma nadinha de piripiri. A coisa ganhou sabor e fez mais sede. Foi dar-lhe e dar-lhe mais. Por um instante: - Ó Sô Neves, vá lá pescar mais um robalo, que a gente espera... Mas ambos acabámos no acordo de que já chegava.

Não sei quando voltarei à Figueira, menos ainda à Marinha das Ondas. Mas quando isso acontecer, o Stop é paradeiro certo. Sô Neves, não esqueça por favor, aqui o velho Machado!