Estranhas faculdades (temo que sim)
Já lá vai metade da vida quase. Esse fim de semana foi em Coruche onde a tropa chegou ávida de uma jantarada à maneira. E que jantarada!, daquelas que só com trinta e qualquer coisa anos se aguenta. Assim mesmo obrigando ao passeio digestivo antes da recolha aos quartos - para uma noite mal dormida, agitada em sonhos e acordares, voltas e voltas no desconforto da cama.
Lembro bem, a pessoa de FW (nem sequer caçador) não me largou a madrugada toda. FW era um amigo e correligionário, como os tenho às dezenas e dezenas. Encontrávamo-nos com regularidade, o trato era o melhor e bem conversado, mas nunca, ao menos, nos visitámos em casa um do outro.
Então porquê tal fixação? Essa noite FW não me largou. Surgia com as suas barbas peitudas, dizia coisas, outras dele outros diziam... Eu acordava com FW nas ideias e tornava a adormecer, e sempre a sua expansiva figura nos mistérios do subconsciente vinda à tona. Somente de manhã, indo para o monte, esqueci FW e me dediquei a uma caçada raquítica de alguns coelhos a saltarem ao tiro. Uma caçada que, segundo a lógica, decerto rapidamente esqueceria.
O que não aconteceu apenas por esta inexplicável razão: a agitada noite povoada pelo FW, - quando chegámos ao Norte soubemos, foi a noite última, fatal, de FW. Morrera o meu amigo nessa véspera da caçada, no regresso a casa vindo não sei de onde, pela média madrugada, vítima de um acidente de viação.
(Para o Ministério do Rocambolesco, o desafio da Ana de Deus - https://rainyday.blogs.sapo.pt/tag/o+minist%C3%A9rio+do+rocambolesco)