O sinal da Halina
Sentado num banco da plataforma, muito no fim da estação, abriu o saco de pano dir-se-ia em busca de um naco de pão, um pedaço de toucinho. Foi, porém, uma velha máquina fotográfica que a sua mão trouxe à luz e poisou nas suas pernas.
Trocara-a há muito tempo, numa loja de velharias, por umas miniaturas que sobravam na sua colecção. Ignorando sempre se a máquina funcionaria ou não. E um dia, tão mais tarde, resolveu experimentá-la, tirar uns retratos a ver se a Halina vivia ainda. Mas só nove anos volvidos, topando-a esquecida, jazendo numa estante ainda com o rolo na barriga, apanhou o comboio e levou-a a quem sabe do ofício. O diagnóstico foi positivo, a deixar-lhe saudades. A Halina estava bem e - Tome lá a revelação! - as imagens captadas viajavam para trás, até Bragança, no derradeiro Verão da existência da sua (dele) Senhora, que a doença mastigara lentamente até ao fim.
A fotografia, muito tosca, com uma vaga expressão do castelo bragantino ao longe...
As demais já não eram identificáveis, salvo umas decerto da serra de Montesinho. Há oito anos sem Ela, a Senhora, apenas com a Halina afinal saudável, resistente como todos os primitivos e igualzinha à do Pai, também já levado pelo tempo, o Pai que, por acaso, nada se interessava pela fotografia. Ela, a Senhora, e o Pai, duas despedidas de Abris já distantes... Recolheu a Halina no saco e deu-lhe graças pelos bons momentos trazidos à tona. E permaneceu esperando o comboio, como quem espera a sua vez também.