De passagem por Loulé
Da estação da Praia da Quarteira-Loulé à cidade ainda vão uns quilómetros atormentados pelo sol algarvio, esturricador das cabeças sexagenárias. Os autocarros são como as bruxas, só visiveis em noites de luar, os taxis escacham-nos a carteira e os ubers... um mal menor. Foi num deles que parti a dar uma volta por Loulé.

Visita fugaz e uma primeira nota: a Rua da Barbacã, topónimo que ainda soa à pedraria chovendo e cheira a pez ardente na cabeça dos infieis. Lá se evidenciam os seus restos, os da muralha e os das torres, sitiados por hordas germânicas e anglo-saxónicas. (0s cruzados da nossa salvação económica...) Somos sempre uma nação em guerra, não há dúvida!

Depois Loulé corre algumas avenidas e descansa à sombra, nas esplanadas dos seus botequins. Em antevésperas eleitorais discute política e quem passa ouve coisas curiosas, outras mais tenebrosas, a cadência das vozes é geralmente de protesto. Por fim, vai ao seu afamado mercado,

nem pestaneja na parte tamanhona destinada ao artesanato e gasta a sua atenção nos produtos do mar ou da terra.

Ainda antes do almoço vislumbrará fenómenos incriveis, como a galo de Barcelos implantado em Trás-os-Montes e o vinho fino duriense de gargalo poisado em Melgaço.

Até que, estenuada, sedenta, se perde na estreiteza de ruas labirínticas, muçulmanas, povoadas de casas de comida e de lençois brancos que lhes conferem sombra e frescura.

Loulé é isto. E um pequeno-grande mais: a tímida capelinha de Nossa Senhora da Conceição, entalada no casario, não longe do mercado.

Quase irreconhecível mas visitada como merece a Rainha e Padroeira de Portugal, no seu altar em que a talha dourada não destoa da dos seus congéneres minhotos.









