Aves em Vilamoura
Três dias na Aldeia do Golf por imensa simpatia de um querido Amigo alentejano, três dias de descanso e piscina, de livros e caneta. Foram três dias realizados com a nuance da passarada. Ou seja, três dias de máquina fotográfica em riste, escondido tantas vezes atrás de um pedregulho, que a variedade era muita e desconfiada.
Chamaram por mim, inicialmente, as poupas. Às manadas, pastando vermes nos relvados.
Imenso perdão lhes tenho a pedir pela sanguinolência dos meus primeiros anos de espingarda, a não deixar fugir o seu lento voo. Coisas de rapaziada tonta... Agora apenas ditirambo a sua beleza, a crista erguida alarmada, o bico longo esgravatando. Mas nos prados da Aldeia do Golf havia mais. Como a alvéola amarela (por cá chamamos-lhes levandiscas), variedade incomum, bicando na mesma manjedoura.
As aves tem esse contra quando a gente não passa apenas assobiando para o ar. Herdaram-no dos seus antepassados: uma máquina de nariz comprido apontada poderá significar um prolegónomeno de morte, um tiro, e o inocente que quer só fotografar come pela mesma bitola. Assim nos viram o peito, sobrando somente as suas cores.
Por isso o retrato escolhido - distante - das mui abundantes pegas azuis.
A pedir a descubram nos carquilhos da palmeira. É um bicho execrado na Beira Baixa, - para mim uma novidade (abundante) em Vilamoura - uma ave acusada dos piores desmandos nas terras, não há mal de que não seja culpada. Veio sozinha ao Algarve ou alguém a trouxe lá?
Chegara, entretanto, a hora da piscina. Com uma oliveira à ilharga e, nesta, um pipilar tranquilo, entrecortado. Já um homem não consegue ficar quedo! E são horas depois a tentar localizar o irrequieto passarinho. Um chapim azul!
O dia seguinte foi de marcha pedestre até à Marina. A par de um trânsito suave feito de boas máquinas. É Vilamoura... São os campos de golf, os lagos e os cágados, a proibição de entrar. Mas no percurso apanhei um distraído maçarico galego, ignoro por alma de quem debicando em curva as ervas junto à estrada.
Até chegar a manhã da partida. Enquanto enchia a mochila, o estranho trinado cá fora, já lá ia a hora dos melros. Saí com a máquina. Na chaminé da casa vizinha, quedos e pedinchas, uns estorninhos pretos!
Meninos ainda. Os pais andavam por ali. O comboio para o Norte já não andaria longe também. Fiz o que pude: em Vilamoura a piscina, afinal, é apenas um intervalo.