Um crime de guerra
Há uns doze anos os combates estavam no fim e o vencido resignava-se já, ante a inevitabilidade da derrota. Era uma coisa muito feia - ia ser despejada a mais antiga barbearia bracarense, o último bastião oitocentista da arte, ainda conservando religiosamente o seu mobiliário de origem.
Um espaço que era um museu, a Barbearia Matos. E que o IPPAR classificara até de interesse público., conquanto tal nada impressionasse o senhorio. Houve tribunal do rijo e um simples despacho da Câmara Municipal resolveria a questão a contento. Batota! A Cãmara deixou-se estar caladinha, a manhosa, esperando decorresse o fim do fim dos prazos de que carecia o inquilino.
Assim em 2011 a Barbearia Matos entregou a alma ao Criador. Do seu proprietário, o Sr. José Matos, nunca mais soube. Ainda anda por cá, Sr. José Matos? Ou já me responde do Além?
Como tantos outros, bati-me pela barbearia através do meu blog MACHADO, JA (jamachado.blogs.sapo.pt) que viria a morrer de excesso de palração...
Enfim, ficou a imagem de um salão com as velhas e pesadas cadeiras giratórias, o relógio de parede, o lavatório e os espelhos, as boas madeiras, o balcão revestido a mármore... E o cliente estirado, jornal nos joelhos, a navalha do Sr. Matos de volta dele.
O outro dia passei na Rua Dom Diogo de Sousa mas já nem consegui localizar onde foi a barbearia. Talvez em uma das muitas esplanadas fluentes em castelhano e francês, sob guarda-sóis a defendê-las da inclemência do castigo divino.
E muito cioso da minha fotografia da defunta, tornei-me um tenaz opositor do Progresso.