Um minhoto na Capital
Não consigo - assustadoramente bacoco - contabilizar as décadas passadas desde a minha última visita à Mexicana. Eu seria estudante ainda... E a Mexicana o poleiro do Meine, um conhecido mariola do colégio interno, o ídolo dos mais novitos que depois frequentavam a Universidade em Lisboa e faziam romagem a visitá-lo. O Meine creio que cursou, ou leccionou, na Mexicana toda a vida (estará agora porventura jubilado), lanchando, almoçando e jantando por conta dos seus discípulos e fãs. Nos quais não me incluía. E que incluísse: o meu porta-moedas andava invarivelmente sem elas, servia apenas para guardar o BI e o passe da Carris...
Pois já se percebeu que voltei à Mexicana, por qualquer razão que me chamou à Praça de Londres e, de permeio, a um encontro (a Mexicana é uma referência inequívoca e um erudito ensaio telefónico sobre os paineis cerâmicos de Querubim Lapa...), um lanchinho, dizia, com a minha loira e tilintante amiga, sempre jovem, sempre formosa, sempre igual. Já lá iam uns meses... Daí o abraço, os beijinhos e o fatal comentário - Está mais gordo!
Assentámos numa mesa da esplanada. Mas - ó tristeza maior! - a conversa foi pouca, chocha, que as pulseiras da minha amiga sonaram logo a abrir o portátil que tirou de uma sacola, com o ar mais natural de quem vai retocar o baton. E foi isso: eu do lado cego do visor e ela embrulhada em palavras soltas, britânicas, sinistramente técnicas, - eram os bugs, um upload, depois o download, clean! e but save us!, a avisar-se para não esquecer. Tudo isto entre um ror de drivers, mouses (na Mexicana!...), firewalls, backups e restantes quindins informáticos.
Deixei correr os minutos até ao quarto de hora de exaustão final. Depois desatarraxei pausadamente a tampa da minha Montblanc e escrevi num cartãozinho em negro carregado - Outload!, com um ponto de exclamação que parecia um míssil.
E nessa velocidade volvi à terra dos vivos. Para o Rossio, ávido de ginjinha e de trivialidades ouvidas da boca dos balconistas.